segunda-feira, 14 de julho de 2008

CMVM preocupada com ignorância do investidor

Em plena crise bolsista, o quadro traçado pelo regulador sobre o tipo de investidor português assume particular relevância pela identificada iliteracia financeira e comportamentos de risco. Uma retrato preocupante que ajuda a explicar o baixo grau de desenvolvimento da bolsa nacional
Um terço dos portugueses que investe em mercados financeiros é reformado ou desempregado, só tem a 4ª classe ou menos e admite que tem pouco conhecimento sobre a bolsa. Cerca de 25% investiu com o mercado em alta, a maioria depende da informação prestada pelos bancos, tem carteiras de risco e pouco diversificadas e quase só compra acções em Portugal. Uma fotografia feita pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) no Relatório Anual de 2007, publicado este mês, e que ganha maior relevância em plena crise bolsista. Os dados do inquérito realizado em 2006 numa amostra de 15 149 famílias confirmam que a poupança em Portugal é dominada por depósitos a prazo (21,1%) e certificados de aforro (3,9%). No resto, apenas 2,7% dos contactados têm acções, 6,5% investem em planos poupança reforma (PPR), 1,8% em obrigações e 0,7% em fundos de investimento. E são as características dos que detêm valores mobiliários (8,9%) - os investidores - que deixa apreensiva a entidade liderada por Carlos Tavares. Em termos de escolaridade, três em cada 10 investidores concluíram quatro ou menos anos na escola. Um dado que, para o regulador, "levanta algumas preocupações com o nível de literacia financeira de um número muito significativo de investidores, tanto mais que é geralmente reconhecido que um elevado nível de cultura financeira diminui os (...) erros de comportamento". Só 24% concluíram um curso médio ou superior. Associada a esta característica, um em cada quatro investidores entrou no mercado há menos de três anos, quando a bolsa estava a subir. "Atendendo a que em geral investidores com menos conhecimentos (...) têm maior probabilidade de negociar títulos apenas quando o mercado está tendencialmente em alta, a juventude destes investidores pode materializar-se em enviesamentos ou erros de comportamento (...), particularmente em períodos de tendência negativa do mercado como aquele que se vive actualmente". O que se traduz numa "dificuldade em aceitar uma perda" e numa resistência a vender que penaliza adicionalmente o investimento. Quando essa venda passa a ser forçada pela dimensão da perda, "a consciência do falhanço leva o investidor a abandonar o mercado". O que explica, em parte, que Portugal acabe por ter uma das mais reduzidas percentagens de investimento em bolsa na Europa desenvolvida, com inúmeras desistências após experiências mal sucedidas.Dependência dos bancosA falta de informação é outro ponto "negro" do inquérito. Apenas 20% informa-se diariamente sobre a actualidade bolsista e, em média, os investidores dizem possuir um conhecimento insuficiente sobre o assunto (auto-avaliação média de 33% em 100). Por outro lado, a esmagadora maioria depende dos conselhos dos gestores de conta/bancários (vulneráveis às opções comerciais), 28% usa crédito para investir e, dentro do universo de investidores, são mais aqueles que têm acções (60%) do que os que detêm depósitos (54%). E é maior o número dos que apostam em produtos complexos e arriscados (11%) do que os que aplicam em fundos de investimento (7,4%)."Estas percentagens encerram alguma preocupação. (...) Se os investidores particulares (...) reconhecem possuir conhecimentos insuficientes (...), não é imediatamente perceptível porque investem em produtos de maior complexidade", conclui, surpreendida, a CMVM.
Fonte: Diário de notícias

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