quarta-feira, 18 de junho de 2008

Crise come poupanças

A crise económica está a obrigar cada vez mais os portugueses a recorrer às poupanças para fazer face ao aumento do custo de vida. E os certificados de aforro, principal produto de poupança em Portugal, são um exemplo paradigmático dessa realidade: em apenas quatro meses deste ano, de Fevereiro a Maio, os resgates de certificados de aforro totalizaram um saldo negativo de 519 milhões de euros, verba que corresponde a metade do custo de construção da terceira ponte sobre o Tejo, em Lisboa.
Os boletins estatísticos do Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP) são elucidativos sobre a tendência de retirada das poupanças dos certificados de aforro: entre Fevereiro e Maio, os portugueses investiram 414 milhões de euros, mas, no mesmo período de tempo, retiraram 933 milhões de euros. Com esta diferença, há um saldo negativo de 519 milhões de euros.
Para este rombo financeiro de aforro, contribuíram, segundo um especialista que pediu o anonimato, 'as novas regras dos certificados de aforro e os depósitos a prazo mais atractivos oferecidos pelos bancos', mas também 'tem a ver com o facto de as pessoas precisarem do dinheiro'.
Prova disso mesmo é que em Maio de 2007, antes de surgir a crise económica, o valor da emissão de certificados de aforro era quase 28,5% superior ao montante do resgate: enquanto as emissões totalizaram 149 milhões de euros, os resgates não ultrapassavam 116 milhões de euros.
JUNHO COM TAXA DE JURO MAIS ALTA DESDE 1997
A taxa de juro dos certificados de aforro atingiu este mês o valor mais alto desde 1997. Para Junho, o Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP), entidade responsável pela gestão deste produto de poupança, fixou a taxa de juro em 3,59 por cento, uma taxa que está ainda um pouco longe dos 4,61 por cento praticados em Dezembro de 1997.
A confirmar-se o aumento em Julho da taxa de juro directora do Banco Central Europeu (BCE), como já deu a entender o seu presidente, Jean-Claude Trichet, os certificados de aforro passarão a ter uma taxa de juro ainda mais atractiva. Resta saber se os portugueses, por força do aumento imparável do preço dos combustíveis e dos produtos alimentares, terão margem de manobra para fazer poupanças financeiras.
PATRÕES CONTRA BCE
Os empresários europeus estão contra a previsível subida da principal taxa de juro da Eurolândia, que é de quatro por cento.
Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, preocupado com a taxa de inflação, que subiu para 3,7 por cento no mês passado, tem dado a entender que vai subir o custo do dinheiro para combater o aumento dos preços.
Mas Ernest-Antoine Seillière, dirigente da organização patronal Business Europe, lembrou ontem, em Bruxelas, que juros mais altos penalizam os consumidores e as empresas, porque pagam mais pelos empréstimos bancários.
SAIBA MAIS
NOVAS REGRAS
As novas regras de gestão dos certificados de aforro entraram em vigor no final de Janeiro deste ano. A série C tem um investimento individual máximo de cem mil euros. Prémio de permanência foi alterado.
17,6
Mil milhões de euros é o montante investido em certificados de aforro em Maio deste ano. Em Maio de 2007, era 17,5 mil milhões de euros.
700
Mil é o número de portugueses que têm as suas poupanças investidas em certificados de aforro.
Fonte: Correio da Manhã (António Sérgio Azenha)

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